19/04/2007
Por Ljilja Cvekic
BELGRADO (Reuters)
- A idéia de sedar até 300 cavalos nos estábulos do hipódromo de
Belgrado, a fim de mantê-los calmos durante um show dos Rollings
Stones, enfureceu os defensores dos animais da Sérvia, que tentam
transferir o evento para outro local.
Mais de 100 mil pessoas são esperadas no hipódromo, o maior local
cercado da capital sérvia. Os cavalos estarão a poucos metros do
palco.
"Os cavalos são diferentes, assim como as pessoas. Alguns são mais
nervosos, mais ariscos", disse a tratadora Jovanka Prelic. "Se
eles ficarem nervosos demais ou começarem a entrar em pânico
durante o show, vão receber sedativos".
Os 12 clubes eqüestres que funcionam no hipódromo esperam que os
organizadores permitam a presença de funcionários suficientes nos
estábulos durante o show para dar tranqüilizantes aos animais,
segundo Prelic.
A Orca, principal ONG de proteção aos animais da Sérvia, diz que o
show será extremamente nocivo aos cavalos, e que sedá-los não é a
solução.
"As pesquisas mostram que o barulho e as vibrações são as causas
mais fortes de estresse para os animais", disse à Reuters o
presidente da Orca, Elvir Burazerovic.
"Certamente nossa grande cidade tem espaços abertos suficientes
onde 150 mil pessoas caberiam. Achamos que o hipódromo deveria ser
deixado para os cavalos", afirmou ele, acrescentando que deslocar
os animais não seria a solução.
"O transporte também causa muito estresse e, além disso, não há
local alternativo para os cavalos".
Os cavalos seriam sedados com diazepam, que, vendido na Sérvia sob
o nome de Bensedin, tornou-se uma droga muito popular durante os
78 dias de bombardeios da Otan em 1999, quando grande parte da
população adulta da cidade dependia de tranqüilizantes.
A Orca disse que, se não conseguir convencer os organizadores a
mudarem o local do show, vão entrar em contato diretamente com os
Stones para pedir que eles usem sua influência.
"Acredito que vamos conseguir, pois uma banda de tamanha reputação
não vai permitir uma mácula dessas no seu currículo", afirmou
Burazerovic.
A banda nunca se apresentou na Sérvia. Um show em 2003 foi
cancelado devido ao assassinato do então primeiro-ministro Zoran
Djindjic, e o concerto marcado para 2006 teve de ser adiado quando
o guitarrista Keith Richards caiu de um coqueiro nas ilhas Fiji e
teve de se submeter a uma cirurgia no cérebro. Agora, o show está
marcado para 14 de julho.
Moscou autoriza
caça legal à urso polar
Steven Lee Myers
Nos limites gélidos da vasta região ártica da Rússia, onde as
mudanças no clima trouxeram os ursos polares a um maior contato
com os seres humanos, a Rússia adotou um método aparentemente
irracional de preservar as criaturas: autorizar a caça legal. Pela
primeira vez desde que a União Soviética proibiu a prática, mais
de cinco décadas atrás, o governo está se preparando para permitir
que caçadores matem ursos. Os animais têm invadido aldeias
costeiras nessa parte do extremo norte da Rússia com maior
regularidade, como resultado da redução na camada marinha de gelo
em geral atribuída ao aquecimento global.
"O espaço normal de vida dos ursos polares está encolhendo", disse
Anatoly Kochnev, biólogo do Centro de Pesquisa Científica e da
Pesca no Pacífico, localizado na região de Chukotka, em
entrevista. "Eles vêm à costa em busca de comida, e as principais
fontes de comida são os locais onde vivem seres humanos". Mesmo
que muita gente venha alertando que os ursos polares estão em
risco, com o governo Bush propondo inclui-los na lista oficial de
espécies ameaçadas, cientistas, ambientalistas e moradores das
aldeias locais expressam a esperança de que a caça ilegal sirva
para reprimir a matança ilegal de animais.
O raciocínio é de que, caso os caçadores sejam autorizados a
abater pelo menos alguns ursos polares legalmente, eles talvez se
sintam menos tentados a violar a lei para explorar a carne de
urso, consumida na região como um alimento de luxo e ilícito, e as
peles com valor de milhares de dólares. "Seria como diz o velho
ditado russo", afirma Sergei Nomkynin, caçador nesta aldeia
localizada a cerca de 130 quilômetros ao norte do círculo ártico e
defensor da retomada da caça legal, que os moradores locais só se
lembram por conta das histórias dos mais velhos. "Os lobos não
teriam fome, e as ovelhas continuariam intactas".
Ainda assim, não é certo se autorizar a caçada de fato reduziria a
exploração ilegal em um país notório pela corrupção e pela
ineficiência na aplicação de seus leis ambientais. A dupla ameaça
que os ursos polares russos precisam enfrentar - o aquecimento
global e a caça ilegal - colocaram Vankarem, e outras aldeias ao
longo da remota costa nordeste do país no centro dos esforços para
garantir a sobrevivência dos animais.
A redução na camada de gelo marítima prejudica os ursos polares ao
afastá-los de suas fontes naturais de alimentação. E ainda que a
caça ilegal seja problema há muito tempo em uma área na qual caçar
ursos no passado representava um modelo de vida, a perda do
habitat natural tornou mais fácil a caçada ilegal aos ursos.
"Quando eles vêm à terra, correm o risco de serem mortos", disse
Kochnev. Ainda que o número de ursos abatidos ilegalmente aqui
seja desconhecido, dada a natureza clandestina da caça ilegal, o
governo estima que até 100 animais sejam abatidos a cada ano.
Kochnev disse que o número talvez seja duas vezes mais alto, o que
representaria um golpe insustentável para uma população que se
estende da costa noroeste do Alasca ao leste do Mar da Sibéria e
que, de acordo com as mais recentes estimativas, se reduziu de
entre quatro mil e cinco mil espécimes para apenas dois mil. No
mundo, a população de ursos polares é de entre 20 mil e 25 mil.
A proibição, adotada em 1956 na Rússia, depois de uma queda
acentuada no número de ursos, será suspensa apenas de maneira
parcial, para permitir a caça de subsistência pelos aldeões de
Chukotka, uma região empobrecida e esparsamente povoada, que fica
do outro lado do Estreito de Bering com relação ao Alasca. A caça,
funcionários locais e de Moscou afirmam, poderia ser retomada
neste ano ou no que vem, assim que um recenseamento for realizado
e uma cota anual estabelecida para não ameaçar a perpetuação da
espécie. No Alasca, a cota anual autorizada sob as leis
norte-americanas é de cerca de 40 animais.
Os ursos polares vivem a maior parte do tempo na camada marinha de
gelo, que usam como plataforma de caça a focas, sua principal
presa. Com a redução na camada flutuante de gelo do Ártico, nos
meses de verão, ao seu menor tamanho em meio século, os ursos têm
de nadar mais para chegar às focas, que vivem perto da terra. Os
cientistas dizem que os ursos que vêm à terra em busca de comida
às vezes terminam encurralados porque a camada de gelo recua
demais e eles não podem retornar ao seu habitat.
Um dos atrativos para a presença maior de ursos é a elevação no
número de leões-marinhos que vivem na costa. Eles ocupam pontas
rochosas localizadas perto das aldeias. Enquanto no passado apenas
alguns milhares de leões-marinhos ocupavam essas pontas, nos meses
de verão e outono o número agora cresceu para as dezenas de
milhares, uma alteração que os cientistas atribuem igualmente à
redução da camada de gelo marinha, que costumava servir de ponto
de encontro aos leões-marinhos.
As carcaças desses animais que caem vítimas de morte natural na
costa atraem os ursos polares famintos. No ano passado, pela
primeira vez, a "patrulha do urso", como o grupo de caçadores de
Vankarem que monitora a presença de ursos é conhecido, reuniu 80%
das carcaças e as transportou por trator para uma base militar
abandonada da era soviética, a cerca de oito quilômetros de
Vankarem.
Em um período de duas semanas, em novembro e dezembro, a patrulha
contou 96 ursos que se alimentaram no local. "No outono, há mais
ursos polares que cachorros por aqui", disse Fyodor Tymityagin,
caçador que faz parte da patrulha, durante uma recente expedição
do grupo à costa do Mar de Chukchi. Sergey Kavry, 35, o líder da
patrulha, diz que o objetivo do grupo é proteger as aldeias contra
ataques e os ursos contra caça ilegal. Depois de suas semanas, o
mar congelou e os ursos, bem alimentados, voltaram ao mar, rumo
norte. "Por duas semanas, Vankarem esteve cercada por usos. Mas
eram ursos felizes", disse Kavry.
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
The New York Times
Fonte Terra Notícias |