21/04/2007
Pesquisadores tentam acompanhar o desenvolvimento das espécies.
Caçadores destroem câmeras para evitar flagrante.
Pesquisadores fazem um alerta: os animais selvagens estão
desaparecendo do Parque Nacional do Iguaçu, que fica na fronteira
entre Brasil e Argentina. Especialistas tentam acompanhar o
desenvolvimento de algumas espécies e enfrentam os desafios para
atravessar rios e a mata da área. Já foram instaladas câmeras para
monitorar os bichos, mas muitos equipamentos foram destruídos
pelos caçadores.
Alguns caçadores que entram no Parque Nacional do Iguaçu são do
bem, como os pesquisadores da Universidade Estadual Paulista
(Unesp) que estudam o comportamento do veado-mateiro, uma das
espécies mais caçadas pelos invasores. Nas mãos, os pesquisadores
levam armas para capturar o bicho vivo, que vai ser examinado e
solto novamente na natureza.
A equipe do professor Maurício Barbanti estuda essa espécie há
mais de 20
anos. São animais delicados. Quando capturados pela rede, precisam
ser imobilizados e anestesiados rapidamente para que não se
machuquem. O veado-mateiro passa por um exame completo: são
coletadas amostras de pêlo, de pele e de sangue. O material segue
para o laboratório, onde é analisado e catalogado num banco de
células.
Pesquisas
Segundo os pesquisadores, os exames de DNA mostraram que o
veado-mateiro do Paraná e o da Amazônia talvez não sejam da mesma
espécie. "São cinco pares, seis pares cromossômicos de diferença.
E isso certamente vai gerar um híbrido estéril, o que comprova que
esses bichos realmente são espécies distintas", explica Maurício
Barbanti.
A prova final da existência da "nova espécie" virá quando os
filhotes atingirem a idade adulta, em pouco mais de seis meses.
Eles são resultado do cruzamento de animais do Paraná e de
Rondônia.
Para o mateiro do Paraná, a comprovação acenderá um alerta
vermelho. As
áreas onde ele é encontrado são poucas e isoladas e o nome da
provável nova espécie vai direto para a lista dos animais
ameaçados de extinção.
Caça
O agricultor Eduardo Guilhardi, vizinho do parque há 46 anos, diz
que ainda
há caça predatória nas redondezas. Ele chegou à região quando as
lavouras ainda eram mata e os animais, abundantes. "Os porcos
entravam na capoeira para comer milho. Eram mansos", lembra.
Agora, o porco-do-mato, ou queixada, já pode ter desaparecido da
área. Ele costumava viver em bandos e era facilmente localizado
pelos caçadores. Há 10 anos, porém, não há qualquer registro da
presença da espécie na região. O sumiço do queixada pode ter
diminuído a quantidade de comida para a onça. Isso explicaria por
que algumas atacaram rebanhos vizinhos.
Em uma fazenda, um bezerro e três ovelhas foram mortos. O caseiro
José Alves da Cruz diz que reconheceu o rastro do animal. "No
outro dia, ela veio de novo. Mas aí eu já estava cuidando para que
não atacasse. Dei uns gritos, e ela desceu. Nunca mais voltou."
Em busca de vestígios
Apesar de se saber dos ataques, avistar uma onça-pintada no Parque
Nacional do Iguaçu está ficando cada vez mais difícil. Os biólogos
Anne Sophie Bertrand e Alcides Rinaldi passam os dias andando por
trilhas tentando localizar vestígios de animais. Anne é francesa e
Rinaldi nasceu em Foz do Iguaçu. Juntos, investigam os efeitos da
presença do homem no comportamento da onça-parda, também chamada
de puma. Mas acabam estudando os outros animais do parque.
Descobriram que capivaras, veados e até mesmo as onças-pardas
continuam aparecendo nas regiões onde há turistas. Lugares onde
nunca viram uma onça-pintada.
Para flagrar os bichos, o casal monta armadilhas fotográficas. Um
sensor dispara a câmera sempre que um animal passa diante do
equipamento. As câmeras ajudam a confirmar a presença das
espécies, saber por onde elas costumam andar e conhecer melhor o
comportamento delas. Mas com o passar do tempo, os pesquisadores
começaram a enfrentar um problema. Algumas foram roubadas ou
destruídas pelos caçadores. "Quando estão no meio do mato, os
caçadores não querem ser vistos. Daí, eles têm medo de aparecer na
foto e geralmente acabam roubando ou estragando as câmeras", conta
Anne.
Espécies registradas
Em dois anos de trabalho, a pesquisa conseguiu aumentar de 45 para
98 o número de espécies de mamíferos registradas no parque. "Mesmo
sendo uma das unidades de conservação mais visitadas no Brasil, o
parque ainda é pouco conhecido porque pouco trabalho de campo foi
feito nele", diz Alcides.
"O tempo vai se esgotando e precisamos de muito esforço para
conseguir conservar isso e manejar o que precisa ser manejado,
para que não seja estragado devido aos conflitos. O valor
ecológico do parque é uma coisa única", ressalta Anne.
Um tempo que, para a onça-pintada, já pode ter se esgotado. Não há
um levantamento atualizado, mas os pesquisadores afirmam que o
número de onças vivendo na reserva já é menor do que o necessário
para a manutenção da espécie na região. "Se não houver uma
conscientização da população do entorno e, principalmente, uma
redução imediata ou uma eliminação da pressão de caça e da pressão
do homem sobre essa espécie, ela estará realmente ameaçada",
alerta o veterinário de Itaipu Vanderlei de Moraes.
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL25059-5598,00.html
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