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01/02/2007
Por Thiago Romero
Agência FAPESP - Ao comparar o nível de aprendizagem de dois
grupos de alunos do curso de medicina que tiveram aulas práticas
demonstrativas com e sem utilização de camundongos, pesquisadores
do Centro Universitário Lusíada, em Santos (SP), concluíram que é
possível manter a mesma qualidade de ensino com a substituição dos
animais por outras fontes de conhecimento.
O estudo se concentrou na disciplina de histologia, que estuda os
tecidos do corpo humano, em aula prática referente à demonstração
de técnicas citológicas. O conteúdo ministrado aos 128 alunos,
divididos em duas turmas, foi idêntico, com diferença apenas na
coleta das células. A primeira turma coletou células dos órgãos de
animais sacrificados e a segunda utilizou células da mucosa oral
dos próprios alunos.
O trabalho, conduzido pelos professores Renata Diniz, Ana Lúcia
Duarte e Charles de Oliveira, foi publicado na Revista Brasileira
de Educação Médica. “Como a finalidade da aula era visualizar
características celulares, não importava se a célula fosse de
humanos ou de animais, já que componentes de interesse como o
núcleo e o citoplasma são iguais em ambos os casos”, disse Renata
à Agência FAPESP.
Com as demonstrações práticas das células encerradas, um
questionário para avaliação da aprendizagem foi aplicado nos
alunos. As respostas foram inseridas em um banco de dados
informatizado e analisadas de maneira quantitativa e qualitativa.
“A análise estatística apontou desempenho semelhante das duas
turmas por não haver diferenças significativas de acertos e erros
nas questões”, afirma.
Segundo ela, o trabalho não propõe a eliminação total dos animais
em sala de aula. “A idéia é apenas alertar professores da área de
saúde para a existência de outras metodologias de ensino que
possam oferecer o mesmo nível de aprendizagem respeitando a vida
animal”, explica Renata, ressaltando que, após os resultados do
estudo, a disciplina de histologia do Centro Universitário Lusíada
não utilizou mais camundongos em aulas práticas.
Outra metodologia bastante utilizada no exterior e que está se
tornando freqüente no Brasil, explica Renata Diniz, são os modelos
que imitam peles e órgãos de animais e de humanos. “Hoje existem
modelos que imitam a elasticidade da pele para que o aluno consiga
praticar técnicas cirúrgicas. A vantagem é que o mesmo modelo pode
ser utilizado durante vários anos e o aluno pode praticar o mesmo
procedimento várias vezes. O animal, por sua vez, após ser
sacrificado é aproveitado em poucas aulas”, compara.
Sentimentos diversos
Em uma das questões do questionário, os alunos tinham que indicar
também três sentimentos vivenciados na presença dos animais, a
partir de 18 palavras listadas. Os sentimentos mais citados foram
curiosidade, ansiedade e tranqüilidade. Por outro lado, felicidade
e orgulho não foram assinalados por nenhum estudante.
Em seguida, os sentimentos foram agrupados em positivos,
negativos, curiosidade e indiferença. Considerando os dois grupos
analisados, o sentimento negativo foi indicado por 50% dos
indivíduos e o positivo por 18%. De acordo com a análise separada
dos sexos masculino e feminino, verificou-se um predomínio de
sentimentos negativos entre as mulheres (61%) em comparação com os
homens (27%).
“De maneira geral, o comportamento emocional dos alunos muda com a
presença de animais em aulas práticas. Eles ficam mais agitados,
principalmente os homens, e acabam passando essa ansiedade para os
colegas”, justifica Renata Diniz.
Para ela, a alta prevalência de sentimentos negativos entre as
mulheres pode ser explicada pela maior aversão em relação ao
sofrimento dos animais. “Os homens, talvez por uma questão social,
tendem a disfarçar suas emoções, o que explicaria o baixo
predomínio de sentimentos negativos relacionados aos animais de
laboratório”, sugere a pesquisadora, que também leciona no curso
de medicina veterinária do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte),
em Santos.
Para ler o artigo Animais em aulas práticas: podemos substituí-los
com a mesma qualidade de ensino?, disponível na biblioteca on-line
SciELO (Bireme/FAPESP),
clique aqui.
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